Em meio a um cenário de medo e incertezas, moradores da Zona Leste de São Paulo lutam contra enchentes

Enchentes recorrentes nas últimas semanas em São Paulo tem tirado o sono de moradores da zona leste

Por mais um ano seguido, milhares de moradores da capital paulista enfrentam as enchentes que castigam as regiões mais periféricas da cidade durante as chuvas de verão. Somente no último domingo, 29, de acordo com os dados pluviométricos do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE), até às primeiras horas do dia o acumulado médio de chuva na cidade em janeiro era de 179,3 mm, o que representa aproximadamente 69,7% dos 257,1 mm esperados para o mês.

Em pouco tempo diversos pontos de alagamento, deslizamentos e transbordamento foram registrados na cidade. Chuvas irregulares, pancadas fortes tem se tornado cada vez mais recorrentes com as mudanças climáticas.

“Duas horas da tarde começou a chover, quatro horas a água já estava aqui dentro de casa e dessa vez demorou, ficou até as duas da manhã cheio”. Conta Patricia Santos da Silva, 43, que mora a 30 anos em União de Vila Nova, quando questionada sobre as percas ela responde – “Alimentos, móveis e o psicológico da gente né, que fica abalado”.

“Tô com três enchentes já que chega invadir minha casa. Transborda lá [Tietê], e esse aqui [Jacuí] transborda, dá o encontro né do rio, e aí o pessoal fica em desespero” revela Patricia, que explica que os moradores acreditam que parte da enchente tem relação a operação da barragem da Penha.

Patricia e seu filho Richard no colo em frente de casa, ela conta que “depois dessa teve umas 5 enchentes, só que nunca chegou aqui na minha casa”. Foto: Francisco Kelvim / MAB

“Na realidade aqui começou encher depois que eles fecham a comporta que vem a água toda do rio de Santo André, não sei da onde, do Tietê, que desagua toda aqui na barragem da Penha, e aí quando eles fecha as comportas a água vem com tudo, pra não alagar os bairro ricão lá né, a população aqui das favela que tome lá e eles não querem nem saber” concluí.

Essa é a mesma conclusão do Sr. Edeltrudes José Querino, 73, que mora no bairro desde 26 de fevereiro de 1991, portanto 31 anos, e que em todo esse período a chuva de domingo foi a segunda a entrar em sua casa. “Essa é a mais alta. Ou é comporta fechada, ou o rio tá cheio” conclui.

Sr. José mostra até onde a água chegou na enchente do domingo, 5 de fevereiro, sua casa está localizada em uma elevação e é considerada alta. Foto: Francisco Kelvim / MAB

A barragem da Penha está localizada no rio Tietê, ao lado da Marginal Tietê, e o fechamento de suas comportas, tem como objetivo conter alagamentos na Marginal e no centro da capital, porém conforme denunciou o Consórcio de Desenvolvimento dos Municípios do Alto Tietê (Condemat), o modelo de operação tem prejudicado a região montante.

A chuva retornou na ultima terça, 31 de fevereiro e no ultimo final de semana, com isso as enchentes retornaram, e os prejuízos da população da Zona Leste, em bairros como o Jardim Lapena, União de Vila Nova, Vila Aimoré e Vila Itaim seguem se multiplicando. Após a cobrança da população a Defesa Civil iniciou o atendimento as famílias, com a doação de alimentos, colchões e lençóis, a limpeza das ruas também se iniciou, porém segundo os moradores ambas medidas ainda são insuficientes.

Limpeza e desobstrução das ruas em União de Vila Nova é realizada após pedidos da população. Foto: Francisco Kelvim / MAB

“É urgente que a prefeitura faça um cadastro socioeconômico e ambiental de todas as famílias que vêm sofrendo de forma recorrente com as enchentes na região, e discuta com as familías uma solução que passa não só pela limpeza e desassoreamentosaneamento dos córregos, mas por acesso ao saneamento basíco” ressalta Tamires Cruz da coordenação do MAB em São Paulo.

Outra medida estrutural cobrada pelo Movimento é a discussão do reassentamento das familías, “Essas familías tambem tem o direito ao reassentamento, pois são atingidas e historicamente excluidas do planejamento urbano da cidade”. conclui a coordenadora.

Leia também: DOS EFEITOS DAS ENCHENTES À ORGANIZAÇÃO PARA LUTA: A TRAJETÓRIA DAS ATINGIDAS DA ZONA LESTE DE SP

Solidariedade constrói direitos

As famílias organizadas no Movimento iniciaram uma campanha de solidariedade para apoiar os atingidos na região, com alimentos, roupas, lençóis, colchões e outros itens básicos. As doações seguem acontecendo enquanto as enchentes seguirem.

Pontos de coleta e contatos: Local 1: Rua Rio Paranoá 190, União de Vila Nova – zona Leste Contato: Tamires (11) 96521-5234 | Local 2: Av Thomas Edison, 301, Barra Funda | Contato: Carol (11) 96050-8480 | Local 3: R. Curimataú, 90, Vila Nova União Zona Leste Contato: Patrícia (11) 96693-5136.

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