4 anos do rompimento de Brumadinho: MAB realiza ato em Belo Horizonte (MG) com presença do ministro de Minas e Energia

Além do ministro Alexandre Silveira, promotores e parlamentares participaram do evento que integra a Jornada de Lutas, promovida pelo Movimento dos Atingidos por Barragens para cobrar reparação

Ato contou com a participação de centenas de atingidos e autoridades. Foto: Francisco Kelvim / MAB

Na manhã desta quarta, 25, o MAB promoveu uma plenária na Faculdade de Direito da UFMG, reunindo cerca de 500 atingidos da Bacia do Paraopeba e do Rio Doce para marcar os 4 anos do crime de Brumadinho. Durante o ato, atingidos denunciaram a falta de reparação integral para diferentes comunidades da Bacia e cobraram apoio das autoridades presentes para a promoção de justiça e segurança para a população do estado.  

“As famílias que estão aqui vieram para denunciar como suas comunidades seguem sem reparação, convivendo com novas violações de direitos, com águas contaminadas com superbactérias, poluição do solo e do ar e com a saúde física e mental cada vez mais ameaçada. Além disto, os atingidos homenageiam e fazem a memória das 272 vidas perdidas e prestam solidariedade às famílias das vítimas, em especial das três ainda não encontradas”, afirmou Letícia Oliveira, coordenadora do MAB na abertura do evento.  

Em sua fala, Jarbas Soares Júnior, procurador Geral de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) se comprometeu a atuar por um acordo justo.

O ministro de Minas Energia, Alexandre Silveira, reafirmou o compromisso assumido em sua posse no governo federal. “Não esqueceremos Brumadinho e Mariana. Vamos investir recursos e esforços na fiscalização ferrenha de segurança de barragens para impedir que eventos lamentáveis voltem a acontecer”, afirmou.

Silveira também falou sobre a necessidade de se criar novas práticas na mineração do país que priorizem o respeito à vida. “Iniciamos nosso trabalho pautando nossas ações pelo viés da justiça socioambiental, com redução das desigualdades, diminuição dos impactados para as pessoas afetadas e inclusão das comunidades nos resultados positivos dos empreendimentos. Não haverá possibilidade no nosso país de qualquer política mineral tolerante com a insegurança. Nosso compromisso é com a segurança e o respeito à vida.  Nossos recursos minerários devem ser explorados de forma oportuna, sustentável e racional”, disse.

Por último, o ministro ressaltou a importância dos movimentos sociais como o MAB na defesa dos interesses dos atingidos. “Recebi na última semana, representantes do MAB para ouvir sobre as demandas das famílias impactadas pelos rompimentos de Brumadinho e Mariana, além de dialogar sobre políticas públicas capazes de garantir a segurança da atividade mineral no país. Tenho clareza da importância de ouvir os movimentos sociais”.

Diversificar o modelo econômico de Minas Gerais

A deputada eleita Duda Salabert (PDT) também manifestou seu apoio aos atingidos por barragens e se comprometeu a lutar não só pela responsabilização dos culpados pelos crimes de Mariana e Brumadinho, mas também por um modelo econômico mais racional no estado de Minas Gerais “4 anos do crime da Vale em Brumadinho. Dia de Luto, mas dia de Luta, pois as mineradoras estão destruindo não só a vida do povo, mas também a legislação ambiental. As mineradoras continuam destruindo nossas serras, como a Serra do Curral e a Serra do Gandarela. Estão destruindo nossos aquíferos e estão destruindo também nossas instituições, porque as mineradoras têm comprado uma parcela do legislativo, tem comprado uma parcela do judiciário e tem financiado o executivo”, anlisou a parlamentar.  

Duda também afirmou que muitas comunidades são reféns das mineradoras que pregam uma ideologia segundo a qual Minas Gerais depende intrinsecamente da mineração.

“A mineração representa 4% do PIB do estado. 4% paga a morte de dois rios? 4% não paga a  morte de dois rios, não paga a morte de centenas de pessoas, não paga a morte da nossa  biodiversidade, da contaminação dos aquíferos. Não paga o sofrimento e os suicídios que aconteceram por causas desses crimes. Por isso, vamos cobrar não só por justiça, mas também pela diversificação do nosso modelo econômico.

Para Joelísia Feitosa, atingida de Joatuba, na Bacia do Paraopeba, há quatro anos, os moradores estão sendo negligenciados. “Nós tivemos um acordo feito pela mineradora sem o governo que não tem a centralidade dos atingidos. Queremos agora ter protagonismo. Em primeiro lugar, a gente quer que a justiça seja feita, que a Vale seja punida e que essa punição sirva de exemplo para que o crime não se repita de novo, porque 272 vidas foram ceifadas. E até hoje estamos sofrendo com insegurança hídrica e problemas de saúde”, destacou a moradora que é uma das coordenadoras do MAB na região.

“Queremos o rio Paraopeba de volta. Vamos continuar na luta até termos a reparação integral, até termos o nosso rio de volta e até temos criminosos responsabilizados”, complementou Feitosa.

Também participaram do evento Carlos Bruno Ferreira, procurador do Ministério Público Federal – MPF, Luiza Dulci, representante da Secretaria Geral da Presidência da República, Luísa Barreto, secretária de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais, Sandra Regina Goulart Almeida, reitora da UFMG, Raquel da Costa Dias, defensora pública-geral de Minas Gerais- DPE e Sérgio Pessoa de Paula, advogado geral de Minas Gerais, e Ricardo Iannotti, subsecretário da Casa Civil do governo do Espírito Santo, entre outras autoridades. Também prestigiaram o ato organizações parceiras do MAB como a Caritas, a CUT, a CTB, a CMP, o SindiPetro, o Sind-UTE e as assessorias técnicas (Aedas e Guaicuí).

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