Belo Monte pretende construir mais de 3 km de muros no rio Xingu

O projeto é construir sete muros dentro do Xingu, em região já profundamente impactada pela barragem

A Norte Energia, dona de Belo Monte, apresentou ao IBAMA uma proposta para a construção de muros gigantes dentro do leito do rio Xingu como medida de “mitigação” aos danos causados pela construção da hidrelétrica na Volta Grande do Xingu. Para instalar esses muros, a empresa pretende depositar cerca de 576 mil toneladas de rochas e terras no leito do rio em um período de três anos, em uma região já drasticamente impactada pela hidrelétrica.

Para o MAB, é inadmissível a construção de mais paredões no rio Xingu, sobretudo porque a inundação será muito abaixo do que é esperado para a reprodução da vida aquática. Além disso, poderá causar mais danos socioambientais, como alagamentos em dezenas de casas na Ilha da Fazenda.

Mapa da Volta Grande do Xingu mostra localização prevista para a construção dos muros. Fonte: Relatório Ambiental da Norte Energia

De acordo com a proposta, serão seis muros no setor da ilha São Pedro e um muro no setor Ressaca/Ilha da Fazenda. Os sete muros terão uma extensão conjunta de 3,1 km, sendo que o maior muro terá 1,1 km de extensão e será localizado no setor Ressaca/Ilha da Fazenda. Este setor é o que está ameaçado pela instalação da mineradora canadense Belo Sun, que pretende explodir toneladas de bombas há menos de 2km para, segundo ela, instalar o maior projeto de ouro a céu aberto no Brasil.

A região da Volta Grande do Xingu compreende uma extensão de 130 km entre o município de Altamira (PA) e a casa de força principal da UHE Belo Monte, em Vitória do Xingu (PA).  Essa região foi diretamente atingida pela operação de Belo Monte, pois a usina desvia grande parte das águas do rio Xingu para suas turbinas. Durante alguns meses do inverno (cheia do rio) há a redução de até 80% da vazão do Xingu.

A diminuição da vazão rio Xingu causou a redução na reprodução dos peixes, tracajás, diminuição na quantidade de plantas e mudanças nas rotas de navegações. Essas modificações acabaram causando impactos negativos na vida de milhares de pescadores, ribeirinhos, agricultores, extrativistas e indígenas nessa região.

De acordo com a própria Norte Energia, antes da construção da barragem no Xingu a área de inundação nessa região era de 54.261 hectares com a área de floresta aluvial (periodicamente inundada) de 16.167 hectares, já a partir de 2016, com a operação da usina, foi reduzida 36% da área de inundação e até 80% da área de floresta aluvial.

Diante das denúncias dos atingidos por Belo Monte, o IBAMA determinou que a Norte Energia liberasse mais água para a Volta Grande do Xingu, no entanto, após muita pressão do próprio Governo Federal e do “mercado”, o IBAMA acabou fechando um acordo com a Norte Energia e houve novamente a redução da vazão do rio.

Área técnica do Ibama reprova primeira versão do projeto

Em fevereiro de 2022, a Norte Energia apresentou para o IBAMA a primeira versão da “proposta para mitigar os impactos na Volta Grande do Xingu” e assim, garantir o desvio das águas para suas turbinas. A principal medida dessa proposta era construir um conjunto de 7 soleiras (muros) para aumentar a inundação à montante dessas áreas. Essa proposta previa a construção de muros com até 1,5 km de extensão, com a soma total de todos os muros chegando a 4 km de extensão. Segundo essa proposta, a construção desses muros iria possibilitar o aumento da inundação em apenas 15% para uma vazão máxima de 4 mil m³/s e até 30% para uma vazão de 8 mil m³/s.

Após análise dessa proposta, o IBAMA elaborou o Parecer Técnico n° 46/2022. O órgão cita como possíveis impactos a retirada de material rochoso do canal de derivação e seus diques para a construção desses muros, o aumento da turbidez, o dano paisagístico, o impacto de sinérgico com a possível instalação do projeto de mineração da Belo Sun nessa região, o desaparecimento de rotas de navegação secundárias. No final do parecer a equipe técnica do IBAMA recomenda à diretoria de licenciamento que não autorize a construção dos muros no rio Xingu por causa dos impactos mencionados e pela insuficiência de inundação da Volta Grande do Xingu.

Diante de parecer negativo à construção desses muros, a Norte Energia atualizou a proposta, com a redução dos muros de 4 km para pouco mais de 3 km de extensão no total. A empresa já elaborou um Relatório Ambiental e já está se reunindo com algumas famílias atingidas para convencê-las em aceitar a proposta.

Foto: Corredeiras do Xingu na região da Volta Grande. Fonte: Ibama

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 27/04/2022 por Procuradoria Regional da República da 1ª Região

Justiça mantém suspensão de licença de instalação da Belo Sun no Pará

Empresa canadense quer construir maior projeto de extração de ouro a céu aberto do Brasil em plena Amazônia