Atingidos vão às ruas em defesa da CORSAN em Porto Alegre (RS)

Sindicatos, organizações sociais e atingidos por barragens protestaram contra o governo do estado que quer privatizar a companhia de saneamento e o departamento de água e esgoto do Rio Grande do Sul

Trabalhadores do setor de distribuição de água e atingidos por barragens participaram de ato que teve concentração em frente ao DMAE

Na tarde desta terça, 28, moradores de Porto Alegre organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) foram às ruas em defesa da Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan). O ato “RS pela água” teve como objetivo convocar o povo gaúcho para a luta contra o processo de privatização da Corsan, promovido pelo Governo de Eduardo Leite, o qual anunciou a venda das ações da empresa pública para o mês de julho deste ano. Além disso, também está em vias de ser entregue à iniciativa privada o Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre (DMAE), com privatização marcada para março de 2023.

A mobilização foi convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Purificação e Distribuição de Água e em Serviços de Esgoto do Estado do Rio Grande do Sul (Sindiágua/RS), visando iniciar as negociações sobre o Acordo Coletivo da categoria, composta por aproximadamente cinco mil servidores. Os trabalhadores afirmam que, ao contrário do discurso do governo estadual, a Corsan é uma empresa pública lucrativa. Ainda segundo os profissionais do setor, a companhia tem condições de investir na expansão do serviço de fornecimento de água e saneamento de esgoto no estado, atendendo as metas estabelecidas pelo Novo Marco Legal do Saneamento Básico.

A concentração do ato teve início às 10h, em frente ao DMAE, seguida de assembleia do Sindicato na qual foi deliberada a entrada da categoria em estado de greve, com a participação de trabalhadores dos cerca de 300 municípios atendidos pela Corsan. A caminhada teve início ao meio-dia em direção à sede da Corsan e se encerrou em frente ao Palácio Piratini, na Praça da Matriz, com presença de mais de 5 mil pessoas, incluindo lideranças de cerca de 30 organizações sociais do estado e sociedade civil.

Segundo Arilson Wünsch, presidente do Sindiágua, a luta a partir da mobilização popular é pela derrubada da privatização da Companhia e em defesa da água como um bem que deve ser público e acessível para todos ao invés de ser tratado como uma mercadoria.  Em pesquisa realizada estadualmente, 70% da população consultada afirmou ser contra a entrega da Corsan ao capital privado.

“O que está em jogo, para além da privatização da Corsan, é a privatização de uma base natural, de um bem da humanidade. O processo de entrega da Corsan abriu as portas para um projeto maior de privatização, que inclui o DMAE”, denuncia Arilson.

70% da população é contrária à privatização da Corsan

Leonardo Maggi, integrante da coordenação nacional do MAB, em fala durante o ato, afirmou que os atingidos por barragens estão na rua em defesa da água e da vida. “Nós viemos de todas as regiões do estado para lutar junto com vocês pelo direito básico de acesso à água e ao saneamento através de uma empresa pública. Essa empresa é construída por trabalhadores que cuidam deste patrimônio do povo e bem da humanidade que é a água e prestam um serviço essencial e com qualidade.”

Ao longo do ato, representantes de sindicatos, movimentos socias, parlamentares, ex-prefeitos e diversas organizações fizeram falas denunciando os interesses por trás da privatização: gerar lucro para empresas privadas, que comprovadamente prestam serviços de baixa qualidade e impõem altas tarifas aos consumidores. Foi citado o caso da Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica (CEEE-D), comprada pela Equatorial Energia, que distribuiu R$ 1,2 bilhão aos acionistas as custas do aumento da tarifa oito meses após ser vendida.

Além do Sindiágua/RS, participaram do ato representantes do Sindicato dos Municipários de Porto Alegre (Simpa), do MAB, do Levante Popular da Juventude, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), do Serviço Municipal de Água e Esgotos de São Leopoldo (SEMAE), do Departamento de Água e Esgoto de Santana do Livramento e de outros municípios, do Sindicato dos Engenheiros do RS (Senge/RS), do Sindicato dos Administradores no Estado do RS (Sindaergs), da Associação dos Aposentados da Fundação Corsan (Funcorsan), além de parlamentares do estado.

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