MAB e Fiocruz colocam em pauta a saúde dos atingidos por barragens no RS

Parceria com a Fiocruz promove diagnóstico das regiões atingidas no Alto Uruguai e noroeste do Rio Grande do Sul

Ao longo do mês de abril, foram realizadas as ações de campo do projeto “Diagnóstico das Condições de Vida e Saúde Ambiental em Regiões Atingidas por Barragens no Estado do Rio Grande do Sul”, com foco os municípios de Aratiba e Mariano Moro, localizados no Alto Uruguai gaúcho e atingidos pela barragem de Itá, e em Alecrim e Porto Lucena, na região noroeste do estado e atingidos pelo projeto do Complexo Hidrelétrico Binacional Garabi e Panambi. 

O projeto é fruto de parceria entre o Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB e o Laboratório de Educação Profissional em Vigilância em Saúde (LAVSA) da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), uma das unidades de formação da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). 

O objetivo geral é fortalecer ações para intervenção na área da saúde nos territórios estudados, através da realização do diagnóstico dos impactos causados pelos empreendimentos hidrelétricos nas condições de vida e saúde ambiental das populações atingidas por barragens. Realizado a partir do diálogo com as famílias atingidas, profissionais da saúde, secretarias de saúde, prefeituras, sindicatos parceiros, hospitais comunitários e a sociedade em geral. 

O diagnóstico objetiva produzir conhecimento científico e subsídios para a formulação de uma proposta de formação docente, além da realização de uma formação em saúde, sendo esta ofertada para a população local do território atingido pela barragem de Itá, ainda em 2022. Além disso a parceria prevê a realização de um seminário para ampliar o debate sobre vigilância em saúde na região atingida por Garabi e Panambi, também neste ano, e de forma geral, a produção de subsídios para a proposição de políticas públicas voltadas a atender as principais necessidades diagnosticadas pelo projeto nas regiões pesquisadas.

Para o levantamento de dados, foram feitas entrevistas por meio de aplicação de questionários com moradores, profissionais de saúde, realização de grupos focais e reuniões com agentes locais nos 4 municípios pesquisados. Nos dois territórios atingidos, as entrevistas com moradores foram feitas pela equipe de pesquisadores do MAB ao longo de três semanas, iniciando no dia 6 de abril no município de Aratiba, seguido de Mariano Moro, Alecrim e Porto Lucena. Na semana do dia 18 até o dia 28, pesquisadores da Fiocruz, vindos do Rio de Janeiro, se somaram a equipe de campo, para a aplicação de questionários com profissionais de saúde, grupos focais e visitas a diversos locais para reconhecimento dos territórios estudados. 

Além disso, em Aratiba, a equipe foi recebida pela direção da Associação Comunitária Hospitalar de Aratiba (ACHA), sendo apresentados à história e estruturas do hospital. Em Mariano Moro, participaram de reunião na prefeitura com presença do prefeito Irineu Fantin, da Secretaria de Saúde Suzimara da Rosa e profissionais atuantes na atenção básica a saúde, seguido de visita as estruturas de atendimento à saúde no município. 

Na região noroeste, em Alecrim, os pesquisadores foram recebidos no gabinete do prefeito Elmo Anastácio Dullius, seguido de visitas ao Hospital de Caridade e posto de saúde. Em Porto Lucena, realizou-se reunião com o vice-prefeito Dadá Vlieger, no gabinete da Prefeitura Municipal.

Já em Erechim, município polo da região do Alto Uruguai Gaúcho, onde estão localizadas estruturas de abrangência regional, os pesquisadores se reuniram na prefeitura municipal, dialogando com o prefeito Paulo Polis, com a secretária adjunta de saúde Daniele Colla e com Samuel Salvi Romero, professor de medicina e assessor da Secretaria de Saúde, para a obtenção de um panorama regional da situação da saúde, com olhar para os municípios atingidos pela usina de Itá. Ainda em Erechim, foi promovido um ato político entre MAB, Fiocruz, lideranças locais, representações políticas e organizações parceiras, na noite do dia 22, como um importante espaço de apresentação do projeto, da equipe e de articulação com os agentes locais visando a qualificação do debate no território e apontamentos para ações futuras de forma coletiva. 

Ao longo do campo, os pesquisadores do MAB e Fiocruz participaram também de uma série de entrevistas em rádios locais, como na Rádio Aratiba AM 900, no programa semanal da Prefeitura de Mariano Moro, além de serem recebidos na Rádio Cultura FM 105,9 de Erechim e Rádio Navegantes AM 1360 de Porto Lucena. 

As atividades de campo estreitaram a relação entre a equipe de pesquisadores MAB/Fiocruz, moradores, profissionais de saúde, institucionalidade e lideranças locais, que foram essenciais no processo de articulação para o desenvolvimento da pesquisa de forma exitosa e também no compartilhamento de relatos centrais por aqueles e aquelas que vivenciam no dia-a-dia os impactos causados pelas barragens na vida do povo na Bacia do Rio Uruguai e que se colocam como sujeitos de sua própria história, na resistência e na luta em defesa dos direitos dos atingidos e atingidas por barragens. 

Sobre os territórios:

A Usina Hidrelétrica Itá está localizada na Bacia do Rio Uruguai, na divisa entre a região norte do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Seu projeto data da década de 1980, quando surgiu o embrião da luta do povo atingido, que resultou na criação de comissões municipais de atingidos e posterior da Comissão Regional de Atingidos por Barragens (CRAB), sendo um dos berços de construção do MAB. Nesta região, a barragem já opera há mais de 20 anos. Já o projeto de Garabi e Panambi localiza-se na região noroeste do estado, onde o Rio Uruguai faz divisa com a Argentina. O projeto binacional, que consiste em dois barramentos, data da década de 1970, sendo alvo até os dias de hoje da luta e resistência do povo contra sua construção. Em ambos os territórios, a população é atingida pelos impactos causados pelas barragens, desde o anúncio dos projetos até após o início da produção de energia. 

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