Atingidos se manifestam durante simulado de rompimento de barragem da Vale, em Ouro Preto (MG)

Durante uma passeata, os moradores excluídos do programa de remoção da mineradora reivindicavam o direito de serem reconhecidas como atingidos.

No dia 29 de maio, atingidos de Ouro Preto (MG) realizaram uma manifestação exigindo o direito de remoção de suas casas situadas próximas à Barragem Doutor, que corre risco de rompimento.

O ato aconteceu durante um simulado de evacuação de emergência da Zona de Autossalvamento (ZAS) da Mina de Timbopeba, realizada pela Vale e pela Defesa Civil municipal. Os atingidos que protestavam contra a companhia passaram lama no corpo para representar a ameaça do rejeito em suas vidas e fizeram uma passeata denunciando a invisibilidade a que eles foram condenados.

A insegurança e o medo são sentimentos constantes na vida de todos os moradores do distrito de Antônio Pereira, principalmente das famílias que estão próximas da barragem Doutor. Elas vigiam a barragem da janela de suas casas, preocupadas com o aumento das erosões, com as intervenções que a empresa faz na estrutura e com os riscos de rompimento que elas podem encadear. Como resultado dessa insegurança, vários atingidos, incluindo crianças, passam por algum tipo de sofrimento mental, depressão, dificuldade de dormir ou ansiedade. Além disso, há relatos de alergias e problemas respiratórios causados pela intensa poeira gerada nas obras.

Alguns atingidos já receberam laudos médicos com problemas psicológicos associados ao risco do rompimento da barragem, como, por exemplo, Patrícia Rodrigues, que nos fez o seguinte relato: “tenho pânico, depressão e medo da barragem. Quando está chovendo, é muito pior. Só consigo dormir à noite por conta de remédios. O Ministério Público não me dá decisão sobre o que fazer com minha saúde e nem a Vale, que causou todo este pânico e não arca com a situação”.

Além da preocupação com a barragem, o restante do distrito convive com uma grande quantidade de carros e ônibus transportando trabalhadores da mineradora, levantando poeira, fazendo barulho, impactando a estrutura das moradias e afundando o calçamento das vias. Essa circulação intensa de pessoas promove ainda o risco de aumento do novo coronavírus na comunidade.

Desde o ano passado, cerca de 600 pessoas foram removidas de suas casas. Muitos outros moradores que não se sentem seguros, porém, ainda lutam pelo direito à remoção, pois não são reconhecidos como atingidos, mesmo morando próximos à barragem.

No mês de maio, a Vale reduziu de 2 para 1 o nível de segurança da Barragem Doutor, devido aos avanços nas obras de descaracterização da barragem, mas a mudança não trouxe mais tranquilidade para os moradores. Atingidos relatam que população não compreende as poucas informações técnicas repassadas pelo Ministério Público e muitos moradores sequer têm acesso a essas informações devido a restrição de reuniões públicas presenciais neste período de pandemia.

Segundo representantes do MAB, exemplos de impunidade da Vale nos crimes de Mariana e Brumadinho – em que ainda não houve julgados e condenados – deixaram marcas de grande desconfiança e indignação na população. Por isso, os atingidos não acreditam nas informações repassadas pela mineradora e nem no aumento do nível de segurança da barragem.

O Movimento dos Atingidos por Barragens se mantém firme junto aos atingidos de Antônio Pereira na luta por direitos e no enfrentamento à ameaça de domínio da Vale no território.

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