Dois anos após contaminação do Paraopeba pela Vale, atingidos seguem sem água de qualidade

Problemas no abastecimento, água de má qualidade, fornecimento intermitente são algumas situações relatadas pelos atingidos na bacia, em ato virtual neste sábado (30)

Neste sábado (30), o Movimento dos Atingidos por Barragens promoveu o ato virtual “A luta pela água dos atingidos e atingidas da bacia do Paraopeba”  como parte da jornada em denúncia dos efeitos do crime da Vale em Brumadinho, que ocorreu há dois anos.  

Para o MAB, a água é um direito humano e não uma mercadoria. Dalila Calisto, da coordenação nacional, afirmou o posicionamento e alerta para o avanço da privatização do bem natural, a militante explicou a maneira perversa de atuação das empresas na captação da água em vários estados brasileiros como uma forma de lucro acima da vida.

 Vijay Prashad, que é diretor do Instituto Tricontinental de investigação social, gravou um vídeo onde explica que a situação de devastação do meio ambiente e das vidas humanas é parte de um projeto maior, e não somente consequência das ações individuais de cada empresa, mas, sim, tem relação com sistema capitalista e com o imperialismo, em que países mais ricos exploram economicamente os países periféricos.

No evento, foi apresentado um vídeo enviado de Moçambique, onde a mineradora Vale também atua, e os atingidos africanos sofrem efeitos parecidos com os brasileiros, com água suja e totalmente imprópria para consumo saindo da torneira. 

Dois anos sem água

Para denunciar o problema de abastecimento em Betim, o atingido Thomaz Nedson relatou: “a água é o básico para sobrevivência das pessoas, imagina a situação de não ter uma água para tomar um remédio, para cuidar de uma criança, imagine só como vai quando chegarmos no período de seca, então? Se não fizermos essa luta agora, quando faremos? O direito não vem sem luta”. 

 A pescadora Eliane Marques falou sobre as dificuldades enfrentadas na região de Felixlândia. “Até hoje não fizeram um laudo sobre se a água está própria ou imprópria para consumo, os pescadores usam o bom senso, mas mesmo assim não conseguem vender mais a mercadoria. Temos regiões onde a Copasa não chega, a agricultura foi muito prejudicada”, conta a atingida.    

“Com o rompimento aqui tudo ficou prejudicado, desde a horta até a pescaria. Em um dia de calor como hoje, a gente estaria dentro do rio. As famílias têm que regrar o uso da água por conta dessa incerteza de quando a água vai vir ou não para poder abastecer a casa, e dar aos animais. Nós temos sim direito a água e vamos correr atrás disso”, diz Taty Rodrigues, moradora de São Joaquim de Bicas.   

Insegurança na qualidade da água

De acordo com Luiz Ribas, representante das assessorias técnicas independentes que atuam na região, há alteração na qualidade da água desde a cidade de Pompéu até Brumadinho. Ribas apontou os três principais problemas enfrentados pelos atingidos:

  • critérios: a Vale não distribui água para quem de fato precisa, atendendo individualmente as demandas.
  • a má qualidade do serviço: a intermitência dos caminhões pipa da Vale que não envia água diariamente em quantidade suficiente, e a água da Copasa, que chega com muito cloro às torneiras das residências. 
  • falta de informações seguras sobre a qualidade da água.

Para José Geraldo, do MAB, os atingidos não aceitam empresas parceiras da Vale na condução de estudos sobre a qualidade da água. “Temos que ter laudos sérios e idôneos”, defende.    

Segundo relatório do conjunto das assessorias técnicas, dos 26 municípios afetados com o rompimento da barragem, a Vale faz a distribuição de água para apenas 11. “A Vale sonega o direito à água”, na avaliação das assessorias.

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