Sem mortes há duas semanas, Cuba exporta médicos e é exemplo no combate à pandemia

Com 87 mortes e há duas semanas sem registrar novos óbitos, a ilha caribenha dá exemplo mundial de solidariedade ao enviar brigadas de profissionais da saúde para 37 países

Joaquín Hernández Mena/ Jornal Trabajadores, da Central dos Trabalhadores de Cuba 

O dia 26 de julho não é uma data qualquer em Cuba. Nele, é celebrado o Dia Nacional da Rebeldia Cubana, que recorda o assalto ao quartel Moncada, ocorrido em 1953. Mesmo falha, a ação liderada por Fidel Castro e outros 131 companheiros e companheiras reacendeu o espírito rebelde e é considerada o pontapé da Revolução Cubana.

Na data comemorativa deste ano, a ilha também comemorou duas semanas sem mortes causadas pelo coronavírus. O número de óbitos permanece em 87 desde o começo de julho – mesmo com 192 agentes de saúde contaminados desde o início da pandemia, nenhum faleceu.

De casa em casa, o povo em primeiro lugar

Grande parte desse sucesso no combate ao novo vírus tem relação com uma minuciosa estratégia de vigilância sanitária. Estudantes de medicina e técnicos em saúde têm percorrido a ilha de casa em casa para levantar os casos suspeitos. Quando uma pessoa testa positivo também são identificados os contatos recentes que, posteriormente, são levados a centros de isolamento durante 14 dias, sem custo algum, onde também são testados.

Muitos dos assintomáticos que testaram positivo já estavam isolados porque eram contatos de positivos, e isso diminuiu a expansão do vírus. As medidas de isolamento social foram decretadas logo no início da pandemia e vieram acompanhadas com a garantia de manutenção de 60% do salário para toda a classe trabalhadora.  Também foi adotado o fechamento de escolas, creches e paralisação do transporte público, além da determinação do uso obrigatório de máscara.

Para furar o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, Cuba tem que aproveitar seus recursos próprios, como explica Mayra Riverón Garrote, médica de família que está atuando na linha de frente do combate à pandemia no país:  “Temos construído respiradores cubanos e introduzido nos protocolos de atuação alguns medicamentos de produção nacional, como a Biomodulina, os Interferones [um antiviral largamente estudado em Cuba e que é utilizado na China e outros países para diminuir os impactos imediatos da Covid-19], a vacina anti meningocócica [que eleva a resposta imunológica], e o medicamento homeopático PrevengHoVir que contribui para a elevação da resposta imunológica”, lista a médica.

“A estratégia cubana para o enfrentamento à pandemia da covid-19 é baseada em 60 anos de experiência no enfrentamento a pandemias dentro e fora da ilha. O modelo cubano de saúde é gratuito, universal e de caráter social, com um alto protagonismo da ciência. Isso tem permitido gerar políticas de saúde dinâmicas, com foco na equidade e na justiça social, que privilegiam a saúde acima de qualquer outro interesse”, afirma a doutora Riverón Garrote.

Margarita Araújo Suárez, presidenta do Conselho Popular Alamar Leste, no município Havana do Leste, que tem cerca de 40 mil habitantes, relatou ao Movimento dos Atingidos por Barragens a situação no país.

“A gente se sente protegido, porque a prioridade número um é o povo. Cada cubano e cubana tem demonstrado ao mundo inteiro que somos um país unido, que somos pobres de ‘riquezas’, mas temos a maior das riquezas que é a unidade, o amor à nossa terra e o respeito ao povo. E que, apesar de ser submetidos aos mais cruéis bloqueios e sacrifícios, seguimos em frente, vitoriosos”, destaca Suárez.

Exemplo histórico

A solidariedade internacionalista faz parte da identidade da Revolução Cubana desde sempre, e o envio de cooperação médica um dos seus principais alicerces. A primeira brigada foi enviada ao Chile em 1960, após o país sulamericano sofrer um terremoto, e até hoje profissionais da saúde do país seguem atuando em inúmeros territórios.

Joaquín Hernández Mena/ Jornal Trabajadores, da Central dos Trabalhadores de Cuba 

Em 2005, Fidel Castro criou o Contingente Internacional de Médicos Especializados em Situações de Desastres e Graves Epidemias “Henry Reeve”, que desde então tem atuado em países como Angola, Haiti, Chile, Paquistão, Guatemala, Bolívia, México, China e Peru, entre tantos outros.

A heróica atuação do contingente cubano no atendimento às vítimas da pandemia do ebola na África entre 2014 e 2015 resultou no Prêmio Doutor Lee Jong-Wook 2017 de Saúde Pública, entregue pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Na cerimônia, a organização afirmou: “A Brigada Henry Reeve tem disseminado uma mensagem de esperança no mundo inteiro. Os 7.400 profissionais da saúde voluntários que a integram trataram mais de 3,5 milhões de pessoas em 21 países, enfrentando os piores desastres e epidemias da última década”.

Com a pandemia do novo coronavírus não tem sido diferente. Segundo dados do Ministério da Saúde, Cuba enviou 44 brigadas, que contabilizam mais de 3.750 profissionais, a 37 países afetados pela doença.

 “Essa é uma das ações fundamentais do nosso país que demonstra que, apesar de ser um país mal tratado ao longo dos anos, tem vontade de seguir em frente e salvar vidas, que é nossa tarefa principal, tanto dentro como fora do território. Nosso socialismo é baseado no amor e está sempre impregnado dessa vontade de ajudar aos outros”, opina Margarita Araújo Suárez.

Chegada na Itália. Foto: Heriberto González Brito/ Jornal Trabajadores, da Central dos Trabalhadores de Cuba 

Contrariando a manipulação midiática e a agressão imperialista, uma Campanha Internacional, apoiada pelo MAB, pede que o Prêmio Nobel da Paz de 2021 seja concedido aos médicos cubanos que estão trabalhando no combate à pandemia do coronavírus.

No ano de 2003, em um discurso histórico na Faculdade de Direito Buenos Aires, na Argentina, Fidel expressou claramente a ideia que move essas ações: “Nosso país não possui armas nucleares, nem armas químicas, nem armas biológicas. Mas seremos capazes de enviar os médicos que seja preciso aos mais inóspitos e afastados lugares do mundo. Médicos e não bombas”.

Legado no Brasil 

A solidariedade cubana também deixou grande marca no Brasil. O programa Mais Médicos, criado pelo governo federal durante o primeiro mandato da ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), teve como objetivo a ampliação da cobertura de saúde no país e contou com uma grande colaboração por parte de Cuba.

A chegada dos médicos levou assistência em saúde a municípios remotos que nunca antes tinham tido acesso ao serviço, além das grandes periferias urbanas. Segundo dados oficiais, entre agosto de 2013 e novembro de 2018 – quando Cuba retirou seus médicos após as absurdas acusações do presidente Jair Bolsonaro (que chegou a dizer que o programa tinha o objetivo “de formar núcleos de guerrilha”) mais de 113 milhões pacientes foram atendidos pelo programa em mais de 3.600 municípios, com a cobertura permanente a 60 milhões de brasileiros.

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