Geraizeiros das gerais

Poema por Idalino de Vargem Grande do Rio Pardo/Minas Gerais

Até hoje inda me lembro como si fosse agora,

aqui tudo era sertão, 

mas tudo era muito bom, 

tem algumas coisas na minha memória. 

Aqui tinha muitas lagoas, 

mais não tinha nenhuma represa, 

as águas corriam livremente, 

em meio a natureza. 

Animais corriam nas vargens, 

que às vezes ficavam atolados, 

porque tinha muita água 

os brejos era encharcado 

Precisava muitas valas 

pra que fosse cultivado, 

a gente plantava pouco, 

mais tinha bons resultados. 

A gente andava pelos campos 

porque tudo era incomum, 

tinha cagaiteira, jatobá, rufão, articum, 

tinha coquinho, araçar, gabiroba, muricir 

e de janeiro a meses de março 

a tão sonhada coleta do pequi. 

Até aí tudo bem, mas depois dos anos 70, 

apareceu empresários e fazendeiros 

comprando os direitos de posses, 

por micharia de dinheiro, 

tomando todo cerrado, 

mandando tirar o gado, 

daí pra cá foi desespero. 

Veio uma tal de Rural Minas, fazendo umas mediações, 

tomando toda fronteira, um tal de trator de esteira 

arrastando um correntão, 

não ficou nem sequer um pau em pé, 

jogaram tudo no chão. 

Mas a justiça de Deus não vai falhar 

Se o homem não se arrepender, 

um dia vai ter que pagar, 

Se não preservar a natureza e as águas vier a secar 

o nosso planeta sem água, criatura nem uma vai suportar. 

Mas ainda há tempo para pensar 

e preservar o meio ambiente. 

Não poluir os rios nem cortar as árvores 

Em beira de nascente,

porque espírito de Deus pousava sobre as águas 

quando ainda não tinha gente. 

Meus amigos do assentamento 

sei que de tudo isso vocês estão conscientes. 

Vamos agora de mãos dadas 

lutar por uma terra que estava abandonada, 

plantando nela a semente, 

pedindo as bençãos de Deus, 

para que a terra volte a dar os seus frutos novamente. 

Obrigado. 

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