Cheias no rio Jequitinhonha destroem produções e dificulta pesca das famílias ribeirinhas

Secretaria de gestão ambiental descumpre acordos sobre o aviso da abertura das comportas para os ribeirinhos

Desde a construção da Hidrelétrica de Irapé, em 2002, o nível do rio Jequitinhonha tem mudado constantemente. A denúncia dos moradores é que as comportas estão sendo abertas sem o comunicado prévio e público para a população. 

Na região, várias famílias sofrem com a falta de água, mesmo as que vivem bem próximas ao empreendimento. Após a construção da hidrelétrica, moradores abaixo no curso do rio relatam as mudanças nos modos de vida e o convívio com as cheias. Além disso, agricultores familiares já denunciaram a dificuldade de produção, já que desde a construção, as cheias do rio destroem as plantações e dificulta a pesca. 

Em reunião no dia 30 de dezembro de 2012, na Secretaria de Gestão e Regularização Ambiental da SEMAD-MG, foram apresentadas denúncias sobre violação de direitos na construção de Irapé. Estavam presentes o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (GESTA). 

De acordo com Ediney Oliveira, da comunidade dos Prechedes, foi reivindicado uma investigação por parte do Estado sobre as consequências que a usina de Irapé trouxe para comunidades e sua jusante. A ata da reunião com a SEMAD, em 2012, consta as denúncias sobre a mortandade de peixes, má qualidade da água e ineficiência do abastecimento oferecido pela CEMIG. De acordo com Ediney, foram denunciados também o “crescimento de mato na margem do rio Jequitinhonha, o aparecimento de cobras e da perda de 70% da capacidade de produção de alimentos no cultivo das vazantes.”

Segundo estudos e análises da água a jusante a Irapé colhidos em documentação do GESTA (2013) é possível apontar várias violações ambientais e sociais, como: alterações químicas abruptas na qualidade da água na época, com identificação de impactos irreversíveis no regime fluvial do rio; favorecimento de proliferação de insetos, serpentes e o surgimento de uma vegetação pioneira que traz incomodo que limita o acesso e uso do rio; diminuição da atividade produtiva já que as vazantes dos ribeirinhos foram suprimidas com as vazões de águas soltas pelas comportas da hidrelétricas, ou seja, os ribeirinhos perderam as terras mais férteis para produção; redução ou eliminação criatória de animais, já que muitos dependem do que se cultivava nas vazantes.

Na reunião, também foi acordado que os agricultores seriam avisados da abertura das comportas. Mas, de acordo com o pescador André Avelino, de Almenara, o acordo não foi cumprido, “o nível sobe e desce de uma hora para a outra e da para perceber, fica saindo uma água com uma coloração diferente da rede” afirmou. Para André, ”após a construção da barragem a vida mudou muito. A quantidade de peixe diminuiu e os que tem estão quase todos doentes” relatou.

Pescador no rio Jequitinhonha sem peixes na rede. Foto: MAB

Além da perda das plantações, os atingidos também relatam a dificuldade de pesca e a má qualidade da água, que influencia o desenvolvimento das lavouras. De acordo com Warley Cândido, Pesquisador Popular e produtor rural em Almenara, quando a água do rio é utilizada para irrigar as lavouras, elas perdem o fruto ou acabam morrendo. Para os pescadores, não é possível mais pescar em grandes quantidades e os peixes apresentam feridas.

Os depoimentos também contam que antes da pandemia o lazer e o turismo na beira do rio já estavam em baixa, pelos constantes relatos de pessoas com doenças de pele e alergias ao entrar na água. Warley afirma que “as pessoas vivem com receio e que por isso as atividades econômicas na beira do rio já estavam afetadas antes do período de pandemia”.

O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é contra o projeto de desenvolvimento que tem sido proposto para o Vale do Jequitinhonha, região que tem se tornado alvo principalmente da mineração. Acreditamos que  a melhor forma de pensar o desenvolvimento econômico e tecnológico de um território é garantindo a participação popular, garantindo os direitos e as negociações realizadas com a população. 

Conteúdos relacionados
| Publicado 21/12/2023 por Coletivo de Comunicação MAB PI

Desenvolvimento para quem? Piauí, um território atingido pela ganância do capital

Coletivo de comunicação Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) no Piauí, assina artigo sobre a implementação de grandes empreendimentos que visam somente o lucro no território nordestino brasileiro

| Publicado 23/07/2020 por Coletivo de Comunicação MAB MG

Geraizeiros: cultura, resistência e lutas no Cerrado mineiro

Conhecidos como guardiões do Cerrado, os povos Geraizeiros do norte de Minas, lutam e resistem para poderem reproduzir cultura e modos de vida

| Publicado 25/07/2020 por Coletivo de Comunicação MAB MG

1 ano e 6 meses de crime da Vale na bacia do rio Paraopeba

Todo o curso do rio Paraopeba foi contaminado pelo rejeito, atingindo 24 municípios. Até hoje 11 mortos ainda não foram encontrados

| Publicado 31/07/2020 por Coletivo de Comunicação MAB MG

Moradores de Conselheiro Lafaiete (MG) reivindicam acesso a serviços básicos

Moradores do bairro Topázio sofrem com a falta de acesso ao saneamento básico, água, energia elétrica e calçamento nas ruas