Ameaça de rompimento de barragens da Vale causa evacuações em Ouro Preto e Itabirito (MG)

Novo estudo considera o cenário de rompimento das cinco barragens ao mesmo tempo, gerando o aumento da área hipotética alcançada pela onda de rejeitos, e por isso gerando mais evacuações na região

Foto: Reprodução/Vale

Novo estudo no complexo de barragens da Vale Forquilha I, II, III e IV, localizadas no município de Ouro Preto, foi responsável pela retirada de 15 famílias da comunidade rural de São Gonçalo do Bação, no município de Itabirito, e uma família da área rural de Ouro Preto na manhã da última quarta-feira (1).

A análise colocou as barragens Forquilha I e III em nível 3, que obriga a evacuação da área como principal medida de segurança. As barragens Forquilha II está em nível 2 e IV em nível 1. 

Há mais de um ano, em fevereiro de 2019, outras cinco famílias na comunidade rural de Engenheiro Correa, município de Ouro Preto, foram evacuadas pelo risco de rompimento dessas cinco barragens. Caso rompam, a lama de rejeitos vai em direção à zona urbana de Itabirito e à bacia do rio das Velhas, afluente do São Francisco, importante abastecimento de água no estado.

No ano passado, a Vale também já havia anunciado a construção de um muro de contenção na área rural de Itabirito, próximo a comunidade de São Gonçalo do Bação. No projeto, o muro de contenção teria 60 metros de altura por 350 metros de extensão e, de acordo com a Vale, a obra seria fundamental para proteger a Zona de Segurança Secundária que inclui, além de Itabirito, os municípios de Raposos, Rio Acima, Nova Lima e três bairros de Belo Horizonte – Bairros Jardim Vitória III, Beija-Flor e Maria Tereza – do risco de rompimento do grupo Forquilha. As previsões para a construção do muro estavam para janeiro deste ano, mas até hoje não tem noticias sobre a conclusão da obra.

As famílias que foram evacuadas da região estão assustadas com a possibilidade de rompimento das barragens e com a saída de casa em plena pandemia. Elas foram levadas para hotéis na área urbana e algumas estão nas casas de parentes.

A principio, só saíram com roupas e documentos, um caminhão de mudança pago pela Vale vai recolher os objetos da casa nos próximos dias. As famílias estão contando com um auxilio aluguel e alimentação pagos pela empresa. 

O Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB ressalta que os direitos das famílias evacuadas vão muito além. Deve contar com o auxílio financeiro emergencial mensal a ser pago para todos os membros da família e um valor inicial de indenização, que deve cobrir os problemas psicológicos, econômicos e sociais da retirada das famílias de suas casas. 

Antonio Pereira

Em Antônio Pereira, outra região do município de Ouro Preto, as famílias também estão sob o medo de rompimento de mais uma barragem da Vale, a barragem de Doutor. Cerca de 80 famílias já foram evacuadas durante a pandemia e também vivem com a ameaça de mais uma evacuação a partir do novo estudo que aumentou a área que pode ser atingida pela onda de rejeitos. 

As informações sobre a segurança da barragem e sobre até onde a lama de rejeitos alcançaria são poucas e confusas, causando, de acordo com o relato dos atingidos, angustias, ansiedade e dificuldade de dormir. A comunidade de Antônio Pereira já começa a sofrer também com as obras de descomissionamento da barragem, que trazem aumento de trânsito, barulho de máquinas, poeira e alteração nos cursos dos rios. 

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