Vale da morte

A ‘recuperação’ da Vale é mais uma coisa escandalosa, pois significa que ela se aproveitou de um ambiente de crime para intensificar e aperfeiçoar o processo de exploração da classe […]

A ‘recuperação’ da Vale é mais uma coisa escandalosa, pois significa que ela se aproveitou de um ambiente de crime para intensificar e aperfeiçoar o processo de exploração da classe trabalhadora

Por Claret Fernandes, militante do MAB e padre da Arquidiocese de Mariana

Fazendo as contas, a Vale se deu bem com o crime em Brumadinho. Sua gula ‘regeneradora’ se impôs ao assassinato de 272 pessoas e à contaminação do ambiente. Os ditos prejuízos e boatos de que dessa vez seria diferente de Mariana, em referência ao crime de Fundão (5/11/2015), sãos águas passadas.

As ações da mineradora registraram alta de 3,3% na sexta-feira (17), chegando a 57 reais, valor superior aos 56,15 contabilizados antes do crime. Quem diria! E o valor de mercado da Vale foi a 301 bilhões de reais, 5 bilhões a mais do que o registrado antes.

De acordo com informação da própria empresa, reparações e indenizações com o crime em Brumadinho somaram 6,55 bilhões em 2019, número inferior à quantia a ser distribuída entre os acionistas, 7,5 bilhões. A engrenagem do capital é hábil e perversa, com precedência para acionistas – que nada produzem – em detrimento das vítimas, de seus parentes e do ambiente.

Foto: Coletivo de Comunicação do MAB

Alguns articulistas atribuem essa ‘recuperação’ da Vale ao otimismo de mercado e aos negócios da China, principalmente. Incluem, ainda, mecanismos de indução como o ocorrido no último dia 13, quando o Bradesco BBI indica que a Vale é uma ‘subestimada máquina de fazer dinheiro em modo de diminuição de riscos’. Declarações de peso, assim, aumentam o valor das ações.

Otimismo de mercado e manipulação, no entanto, não são suficientes para explicar a invejável e confortável situação da Vale.

Aqui é esclarecedor lembrar ao menos uma das valiosas descobertas de Karl Marx. Após estudo minucioso, ele percebe que o lucro está diretamente associado à exploração de trabalho. Lucro nada mais é do que trabalho não pago. Ele não vem do encontro no mercado nem por algum milagre.

Nessa lógica, a ‘recuperação’ da Vale é mais uma coisa escandalosa, pois significa que ela se aproveitou de um ambiente de crime para intensificar e aperfeiçoar o processo de exploração da classe trabalhadora. Estudo do Sindicato Metabase de Congonhas (9/9/19) indica que cada operário produz mais de 1 milhão/ ano para a empresa. Há 5 anos, esse valor girava em torno de 900 mil.

FOTO: Isis Medeiros

Na ocasião do aniversário do crime da Vale em Brumadinho, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) inicia Marcha no dia 20 de janeiro, em Belo Horizonte. Após atos no TJMG e na Agência Nacional de Mineração, os 300 marchantes seguem até Pompeu. De lá vêm passando pelas cidades atingidas pelo rejeito de minério e, no dia 25, quando faz um ano do crime, chegam a Brumadinho.

A Arquidiocese de Belo Horizonte, por sua vez, está organizando Romaria, com estimativa de participação de 5 mil pessoas.

A violência das mineradoras é descomunal. Elas eliminam muitas pessoas e entidades, com a criminalização e com as balas de açúcar. Mas as mobilizações, quando acompanhadas de um processo organizativo e de luta permanentes, impedem a morte daquilo que é mais caro a um povo: a esperança e o sonho de liberdade. 

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