Carta às comunidades do rio Canoas

Leia a carta final do Seminário Sobre Grandes Projetos de Energia e suas Conseqüências que aconteceu nos dias 18 e 19 de novembro, em Cerro Negro, SC Seminário sobre Grandes […]

Leia a carta final do Seminário Sobre Grandes Projetos de Energia e suas Conseqüências que aconteceu nos dias 18 e 19 de novembro, em Cerro Negro, SC

Seminário sobre Grandes Projetos de Energia e suas consequências

Comunidade Araçá, Cerro Negro, SC
18 e 19 de novembro de 2009

Nós, populações ameaçadas pela barragem de Garibaldi, atingidos por varias outras barragens como Barra Grande, Campos Novos, Itá, Foz do Chapecó, Machadinho e Itapiranga, trabalhadores eletricitários, movimentos sociais, ambientalistas, comunicadores populares, ONGs, entidades e organizações, lideranças políticas, representantes de igrejas, estivemos reunidos na comunidade de Araçá, no município de Cerro Negro, nos dias 18 e 19 de novembro em um seminário sobre “Os grandes projetos de energia e suas conseqüências”. Juntos, inspirados no profeta Isaías, do oriente médio, e em João Maria, da luta do Contestado, que alertavam o povo para que se unissem contra os grandes inimigos, concluímos:

  • Que as barragens são parte de um modelo de desenvolvimento que enriquece grandes grupos econômicos transnacionais;

  • Que as grandes empresas transnacionais estão buscando tomar conta do patrimônio do povo brasileiro e dos bens naturais estratégicos, como a água, a energia, os minérios, as terras e a biodiversidade;

  • Que as hidrelétricas tem como único objetivo garantir altas taxas de lucro para seus donos,  que exploram o povo e destroem a  natureza

  • Que o discurso propagado pelos construtores das barragens, com promessas de desenvolvimento e progresso, é uma mentira;

  • Que as barragens têm deixado em nossos municípios uma enorme divida social e ambiental: famílias são transformadas em sem-terra, terras férteis são alagadas, florestas são destruídas, os peixes que nos alimentam desaparecem, espécies de plantas e animais são extintas;

  • Que as barragens têm provocado diversas violações dos direitos humanos em todas as partes do Brasil, direitos que deveriam estar assegurados pela constituição nacional e acordos internacionais;

  • Que as mulheres têm sido as maiores vítimas da implantação deste modelo, sofrendo todas as formas de violência e opressão; e, além de não terem seu trabalho reconhecido, são excluídas de todos os processos de participação e decisão antes, durante e depois da construção das barragens;

  • Que as barragens tiram o trabalho, os meios de produção e a fonte de renda das famílias e ainda destroem o modo de vida e a cultura do povo que vive da terra;

  • Que as barragens não produzem energia limpa e representam falsas soluções ambientais e climáticas, pelo contrario, alteram o clima local e agravam a vulnerabilidade das populações aos eventos climáticos extremos;

  • Que as empresas construtoras de barragens têm utilizado diversas formas e práticas de atuação para enganar o povo: uso da violência, ameaças, perseguição, falsas informações, compra e cooptação de lideranças, autoridades e representantes do judiciário, financiamento e criação de falsas organizações;

  • Que a energia produzida pelas barragens privilegia grandes empresas eletrointensivas exportadoras, como empresas de minério e celulose que tem recebido a eletricidade subsidiada, enquanto para o povo o preço da luz é um roubo;

  • Que o rio Canoas, o rio Pelotas, e o rio Uruguai estão se transformando num território controlado por meia dúzia de empresas estrangeiras, como Alcoa, dos Estados Unidos, a Tracetebel-Suez da França e Bélgica, e a Votorantim, do grande capital nacional;

  • Que os governos, de forma geral, não inspiram a confiança do povo, pelo contrário, tem colocado todo o aparato do Estado para privilegiar as empresas construtoras de barragens que financiam suas campanhas eleitorais;

  • Que o BNDES tem sido um banco que usa o dinheiro público para privilegiar e financiar grandes empresas privadas a menores taxas de juros, e não políticas sociais ou pequenas e médias empresas que geram mais emprego e qualidade de vida local;

  • Que quem paga a conta de tudo isso é o povo atingido e toda a sociedade.

Somos todos atingidos

Somos atingidos porque as famílias sofrem perdas e os direitos são negados; somos atingidos no preço da luz; somos atingidos porque as barragens são construídas com o nosso dinheiro, através do BNDES; somos atingidos porque a natureza é destruída; somos atingidos porque as empresas trazem para a região o aumento de doenças, de drogas, prostituição e violência para a região, e provocam o êxodo rural e mais pobreza nas cidades. Somos atingidos pela privatização dos bens e serviços. Somos todos atingidos porque nos tiram à riqueza dos nossos rios e o ambiente saudável para a nossa vida e a dos nossos filhos e netos.

Denunciamos o processo de criminalização, perseguição e desqualificação de todas as lideranças, movimentos e organizações populares que tem se intensificado hoje na região, no Brasil e no continente, como parte das táticas utilizadas pelo grande capital e pelos governos.

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